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sábado, 8 de junho de 2013

André Anheiser Ferrari: “A arte para a população é reciclável. Você consome porque está na moda, porque é visível. Amanhã não dá mais importância...”




André Anheiser Ferrari, morador da cidade de Jaú interior de SP, foi vocalista da extinta banda “Eyes of Shiva”, atualmente envolvido com as bandas “Gangbang” e “MR. Ego”, da aulas de canto e mesmo fazendo tudo isso, ainda teve um tempo para dar uma atenção especial para Headbanger Force Nation. Confira a entrevista.


Headbanger Force Nation - André, você tem uma técnica vocal excelente, com drives bem colocados, agressivos, agudos melódicos bem legais, ou seja, você pode transitar por várias linhas vocais sem problemas. Quais as suas influências, e o quanto elas direcionam seu estilo de cantar?
André Ferrari - Obrigado! Bom, acho que, não ouvir somente cantores de metal tradicional conduz a um vocal mais rico. Há cantores de nível técnico fenomenal fora do estilo. É uma colocação, impostação e interpretação rica, que às vezes grandes nomes de metal nem sonham. Minhas principais influências como cantor são, cantores de hard rock e metal com pegada mais blues, mais soltos na interpretação e no uso de técnicas. São muitos nomes: Göran Edman, Joey Lynn Turner, Joey Tempest, Russell Allen, Mark Boals, Carl Albert, Steve Perry, Roberto Tiranti, Michael Vescera, Sebastian Bach, Stevie Wonder, Tony Marti. Basicamente gosto dos vocais que cantam em voz plena, com pouco uso de falsetes. Encarei isso como desafio desde que comecei. Soa bem diferente, além de ser bem mais difícil.

HFN - O que podemos esperar desse novo CD do Mr. Ego ?
André - Espero fazer o que não fiz até então, em nenhum trabalho anterior. Quero me explorar ao máximo, já que me deram total liberdade para isso. Mas, claro, terei de dar o que a música pede, sem excessos.

HFN - Você foi vocalista da banda Eyes of Shiva, que era uma banda fantástica, e que infelizmente encerrou suas atividades. De lá para cá, quais mudanças você notou na cena metal num contexto geral? Houveram mudanças positivas, negativas, quais?
André - Hoje os meios de você se fazer uma arte boa, uma gravação de qualidade e realmente expor seu trabalho ao mundo, estão muito mais simples. Isso é ótimo. Muitos reclamam que devido a internet e a veiculação de MP3 não se vende mais CDs. Mas nesse estilo, só grandes nomes ganhavam consideravelmente com vendas dos álbuns. Os pequenos, muito pouco. Mas ainda há a cultura, numa minoria, de ter o material original do artista que você gosta. Banda de rock ganha por shows. Esse fácil acesso ao material permite que o universo conheça seu som. Antes era bem complicado para ter tal alcance. Já quanto ao cenário, o público, o que realmente mantém o gênero vivo, é algo realmente preocupante. Sempre houve uma reciclagem de público no gênero. Amigos que ouviram metal porque a turma ouvia e hoje não ouve mais, sempre aconteceu. Mas hoje, a geração mais nova, pouco está apreciando e se identificando ao estilo. Isso é reflexo da educação brasileira. A arte para a população é reciclável. Você consome porque está na moda, porque é visível. Amanhã não dá mais importância. A música é sinônimo de festa, de casa lotada, de mulherada, bebida e bagunça. O rock, principalmente o mais pesado, não promove isso. Nunca promoveu. Tanto que o brasileiro, paga uma fortuna para shows gringos, claro, é a banda clássica que ama, além de ter certa ostentação, em mostrar em que show você foi ou não. Fora shows internacionais, os brasileiros vão a qualquer outra festa que toque qualquer outro estilo. Não adianta metaleiro reclamar do sertanejo ou do axé e aos finais de semana, o mesmo ser o som que embala sua noite. Por quê? Balada lotada, pegação e bebida. Devido à escassez de público, muitos contratantes já não trabalham mais com esse estilo. E não estou falando de metal, não. Estou falando também de rock e o mais acessível rock pop. E o som da banda nacional que você diz ser animal? Esta só existe se tem admiração pelo seu trabalho e público nos shows. Bandas brasileiras têm de ir para o exterior, fazer sucesso lá e chegar como notícia aqui para o público dar valor. Hoje o foco das bandas com trabalhos sólidos é esse... Ninguém mais espera reconhecimento aqui. Triste, muito triste. Isso faz com que muitas bandas ótimas desanimem e acabem. Aí irão chorar e lembrar com saudosismo os anos dourados, tempos quando o Brasil tinha ótimas bandas de metal. Têm de acordar agora!

HFN - Sabemos que esse novo CD conta com a participação especial do baixista do Symphony X (Mike LePond). Como foi essa participação? O que você achou?
André - Quem entrou em contato com ele e propôs a participação, foi o mentor da banda, Paulo André (baixo). Depois, conversei com o Mike via chat. Ele é bem acessível, gente boa! Sem falar que é um monstro e toca na banda que mudou minha vida quanto à vocal.

HFN - Atualmente a música tem se tornado cada vez mais técnica, principalmente no estilo que a Mr. Ego pratica (progressive metal), você acha que isso relega ao feeling um status secundário?
André - Nem! É claro que é comum o estilo esbanjar virtuose e um nível técnico bem alto. Mas música, sem alma, sem você ter um critério estético de melodia, algo que você fecha os olhos e pensa “ual... que maravilhoso”, para mim, não tem valor. Só apreciar pela técnica, pela complexidade, soa mecânico demais. Por isso, tem por ai, toneladas de bandas que só se preocupam com o virtuosismo e técnica, fazem algo clichê, chato, que só pela complexidade pode ser apreciado por músicos, somente; e por não soar criativo, musical e original, tais bandas não chegam a lugar algum. A música não deve ter essa regra. Ouço inúmeros artistas e bandas que não são complexos e tem melodias e arranjos belíssimos, porém simples. Aprendi que é muito mais difícil você fazer algo genial com poucos acordes e melodias simples.

HFN - Cantar com alta performance como você faz, requer muitos cuidados, pois você faz parte de uma outra banda, Gangbang, de um estilo um tanto quanto diferente (Hard Rock), e entre esses reveza seu tempo ministrando aula de canto. Qual o segredo?
André - Estudo... muito! Devido às aulas, hoje não estudo tanto como já fiz e gostaria, mas sempre que posso, lá estou. Cantar é como uma atividade física. Se ficar sem treinar por um certo tempo, perde-se habilidade. Você não executa com precisão na primeira tentativa. É igualzinho! Tem algumas coisas com as quais me preocupo, faço sempre aquecimento, alimentação correta antes de cantar, evito esforço e não bebo no dia anterior ao show. Mas não tenho exageros ou paranóias quanto a isso.

HFN - Como rolou o convite para você fazer parte da Mr. Ego?
André – O Paulo André me conheceu após um show do Eyes Of Shiva em Catanduva, em 2004. Tinha ele no facebook, mas nunca tinhamos conversado antes. Começamos a nós falar e, pouco tempo depois o vocalista anterior decidiu sair da banda. Gravei 2 demos e mandei...

HFN - Após sua saída da Eyes of Shiva, até a entrada na banda Mr. Ego, você se “afastou” um tempo dos palcos, pode nos dizer o que fez durante esse tempo, em termos musicais?
André - Saí do EoS no final de 2006, mas não me afastei dos palcos, e sim do gênero metal ou rock mais pesado. Continuei com bandas covers de hard rock e rock clássico na região e, claro, estudando muito. Foi um período muito bom para isso. Em 2009, me mudei para Marília e lá gravei um Cd completo com a banda Devil’s Inc. Mas alguns desentendimentos me fizeram sair da banda. Espero que o material que seja lançado com outro vocal, porque as músicas são realmente boas.

HFN - Para quem não conhece o André, o que você pode dizer sobre?
André - Um músico que se cobra muito e tenta fazer o melhor. Como pessoa, acessível e de humor instável, acho que só me conhecendo.

HFN - Quais os planos após o termino do Cd? Podemos esperar alguma outra novidade?
André - Estamos estudando algumas coisas inusitadas também. Algo bem fora do comum no metal. Acho que vai rolar e ficará bem “diferente”. Temos a participação também do guitarrista Bill Hudson (Circle II Circle). Um músico brasileiro que reside nos EUA há anos, gente boníssima e toca muito!

HFN - Fale um pouco sobre a outra banda da qual  você faz parte (Gangbang-Jau/SP), pois é uma banda que tivemos a oportunidade de conferir ao vivo, e é fantástica. Como surgiu a ideia da banda?
André - Opa, que bom que gostou! Já conhecia os guitarristas Leandro Passos e Gustavo Oseliero. Tocamos juntos anos antes. Me chamaram para fazer uma banda cover de hard rock, desde os clássicos oitentistas até os mais farofas. Eu amo esse estilo. Por mim teria um cabelo imenso de laquê. Rafael Picello (baixo) e Claudio Strapasson (bateria) se juntaram, começaram a montar um set e ensaiar. Estamos nos aventurando nos palcos agora. A banda é nova. Mas queremos encarar a estrada com ela, sim! Até compor som próprios, porque não?!

HFN - Deixe um recado para o pessoal da Headbanger Force Nation.
André - Um IMENSO obrigado pela oportunidade... valeu mesmo! Ótimo trabalho de vocês divulgarem os  músicos e bandas brasileiras e da nossa região. Abraço a todos!


Entrevista feita por Tiago Bressanim (Tiagão)
Headbanger Force Nation

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